Uma vez considerada extinta, a tartaruga telhado birmanesa (Batagur Trivittata) foi trazida de volta da beira da extinção por um ambicioso programa de conservação, Agora, quase 30 anos após sua redescoberta na natureza, os cientistas finalmente começaram a descrever os filhotes dessa tartaruga de rio pouco conhecida.
Fotos e descrições dos filhotes e dos ovos, bem como alguma informação de contexto sobre a conservação da espécie foi publicada recentemente na revista Zootaxa por cientistas da Sociedade de Conservação da Vida Selvagem (WCS na sigla em inglês), de Mianmar, da Aliança pela Sobrevivência das Tartarugas (TSA na sigla em inglês), da Conservação da Vida Selvagem Global e da Universidade de Georgetown.
A tartaruga telhado birmanesa é a segunda espécie mais criticamente ameaçada de extinção no mundo. Antes abundante, a caça e a superexploração dos ovos levaram a população a uma quase extinção, com o conhecimento da existência de apenas cinco ou seis fêmeas adultas e dois machos adultos na natureza atualmente.
A espécie foi considerada extinta até 2001, quando pesquisadores encontraram um casco de uma tartaruga recentemente morta em uma vila ao longo do rio Dokhtawady, em Mianmar. Logo depois, um colecionador de tartarugas dos Estados Unidos encontrou um exemplar vivo em um mercado de vida selvagem na China.
Encorajados por essas descobertas, pesquisadores conduziram pesquisas de campo para encontrar a população na natureza. Depois de seguir descrições da população local sobre “ovos do tamanho de um pato”, os pesquisadores encontraram tartarugas vivas em dois rios separados de Mianmar. No entanto, a população colapsou a um sussurro, com menos de 10 fêmeas adultas na natureza naquele tempo.
“A maior ameaça é que há tão poucos sobreviventes na natureza e, portanto, se houver um acidente, nós perdemos uma grande parte da população”, disse Steven Platt, primeiro autor do estudo e herpetologista de conservação associado da WCS no sudeste asiático, ao Mongabay. “Caso contrário, é principalmente a pesca. Eu me preocupo com elas ficando presas em equipamentos de pesca e se afogando. E se nós não monitorássemos, os ovos seriam coletados”.
Mais da metade das espécies de tartarugas e cágados do mundo estão ameaçados de extinção. A perda do habitat é sua maior ameaça global, mas as tartarugas também enfrentam os perigos do comércio de animais de estimação, superconsumo como comida ou remédio, pesca, poluição, espécies invasoras e mudanças climáticas.
Em um esforço para trazer a tartaruga telhado birmanesa de volta da beira da extinção, a WCS e a TSA em colaboração com o Ministério da Conservação Ambiental e Florestal começou um programa, em 2007, para “dar uma vantagem” para a espécie. Pesquisadores e técnicos coletaram ovos de tartarugas selvagens e começaram um programa de criação em cativeiro.
Agora, as tartarugas estão geradas, chocadas e criadas em condições protegidas da predação por peixes grandes, pássaros e lagartos, caça ilegal e coleta de ovos. Esforços complementares de conservação também são focados nas tartarugas selvagens remanescentes conhecidas: cinco a seis fêmeas adultas e somente dois machos vivendo em um trecho remoto do alto do rio Chindwin. Seus ninhos são monitorados e os ovos são coletados e incubados em uma instalação segura na vila de Limpha, na região de Sagaingue, em Mianmar.
A população do cativeiro agora se aproxima de mil tartarugas, e a espécie parece correr pouco perigo de uma extinção biológica. O objetivo é eventualmente libertá-las de volta para o habitat natural delas no rio Chindwin.
Em 2015, a WCS e a TSA reintroduziram algumas tartarugas macho para a natureza, mas as tartarugas reintroduzidas podem ser difíceis de acompanhar e localizar no rio quando a estação de chuvas chega, explica Platt. Por enquanto, o time está tentando uma estratégia diferente, mantendo algumas das tartarugas em gaiolas flutuantes no rio, como uma maneira de “liberação suave”. A expectativa é de que uma vez que as tartarugas se acostumem com a área elas possam ser soltas e não dispersem para muito longe.
“A conservação de tartaruga de rio é realmente difícil”, disse Platt. “Cágados podem se mover cerva de um quilômetro ou, normalmente, ficam apenas dentro de uns poucos hectares de onde nós as soltamos, mas essas tartarugas, uma vez que elas estão no rio, elas podem subir ou descer umas centenas de milhas se elas apenas continuarem a nadar. Então, você sabe, a conservação das tartarugas de rio é um osso duro de roer”.
“Porém, o programa de criação em cativeiro produziu cerca de 170 tartarugas por ano nos últimos dois anos”, disse Platt. “Portanto, as tartarugas estão biologicamente seguras. Elas não vão ser extintas”.