Conheça a ave Mutum-do-nordeste

Conheça a ave Mutum-do-nordeste

Conheça a ave Mutum-do-nordeste

O mutum-do-nordeste é um galliforme da família Cracidae. Conhecido também como mutum-de-alagoas, mitu e mutu.
É a ave símbolo do Estado de Alagoas.

**Extinto na natureza, restando apenas alguns exemplares em cativeiro**

A história da ocupação da Mata Atlântica nordestina, em especial nos estados de Pernambuco e Alagoas, começa na sua colonização no século XVI e se estende até os dias atuais. A prática do desmatamento para dar lugar a plantações de cana-de-açúcar é antiga na região, contemporânea à da caça de animais silvestres de maior porte. A partir da década de 70, um novo ciclo de desmatamento – até então estagnado – surge, desta vez mais intenso e veloz, incentivado pelo advento do programa Proálcool: fragmentos de floresta de tabuleiro e o planalto adjacente foram dizimados, eliminando enormes porções de floresta à revelia do Código Florestal Brasileiro e sem qualquer intervenção dos órgãos do governo responsáveis pela proteção dos recursos naturais.

Muitas foram as espécies prejudicadas, dentre elas, o mutum-do-nordeste (Pauxi mitu), também bastante conhecido como mutum-de-alagoas. Um dia a maior ave terrestre da Mata Atlântica nordestina, ocupando grandes territórios de floresta virgem de baixas densidades. Apreciado como peça de caça, foi dizimado junto com a floresta onde vivia.

A triste história do mutum-do-nordeste é um dos primeiros casos de extinção de uma espécie no Brasil em razão da intervenção humana e também reflexo da falta de compromisso que os órgãos ambientais e a sociedade em geral tiveram com os últimos remanescentes de floresta dos estados de Alagoas e de Pernambuco.

Atualmente, as matas do CEP (Centro de Endemismo de Pernambuco) encontram-se bastante degradadas, havendo poucos remanescentes com mais de 500 hectares. O maior deles tem está na ESEC Murici, com 2.700 hectares. Assim, não é surpresa que as localidades com o maior número de espécies de aves ameaçadas de extinção no mundo encontram-se em Alagoas e Pernambuco, onde restam menos de 2% de cobertura vegetal nativa. A reintrodução do mutum depende da integridade dos remanescentes de Mata Atlântica, principalmente os das Usinas Serra Grande e Utinga Leão em Alagoas, que estão entre os mais aptos a receberem a ave, bem como alguns fragmentos em Pernambuco.

Os animais foram considerados completamente extinto na natureza há cerca de 4 décadas, principalmente devido à destruição de seu habitat para o plantio da cana-de-açúcar, além da caça desregrada na região.

Restaram apenas alguns exemplares em um único aviário localizado no Rio de Janeiro (criatório Nardelli), os quais foram capturados em Alagoas, de 1976 em diante. Pedro Nardelli, que era empresário carioca, foi o grande responsável pela salvação da espécie.

No início dos anos 70 havia registros de cerca de 20 indivíduos ou menos, em quatro fragmentos de floresta. Em 1976, Pedro Nardelli obteve o primeiro exemplar, uma fêmea de seis anos, que morreu pouco depois.

Em 1976, quando teve sua primeira experiência na mata, ele descobriu que o Mutum-de-alagoas estava desaparecendo e começou a se movimentar à favor da conservação do animal. O ambientalista fez até amizade com os caçadores, na esperança de que o ajudassem a encontrar os poucos exemplares restantes, além de claro, não matá-los.

Segundo a IUCN, os últimos registros da espécie em habitat silvestre foram feitos por caçadores, com indivíduos caçados provavelmente entre 1984 e 1988

Por volta de 1980, Pedro levou consigo 5 indivíduos, dois machos e três fêmeas, sendo que um casal não se reproduziu. Assim, todo o conjunto gênico da espécie é oriundo de apenas um macho e duas fêmeas. Eram as últimas aves vivas, e, exatamente por isso, decidiu salvá-las do completo desaparecimento, já pensando em um projeto a longo prazo. Na ocasião, teve início o processo de reprodução em cativeiro. Graças a um trabalho de reprodução desenvolvido pelo zoobotânico Pedro Mário Nardelli, no Rio de Janeiro, o número de indivíduos aumentou para 44.

Em agosto de 1999, o criatório de Nardelli fechou por dificuldades financeiras e 24 exemplares que viviam ali foram enviados, com a autorização do Ibama, à Crax – Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre, localizada em Contagem, e ao Criadouro Científico e Cultural Poços de Caldas, em Poços de Caldas ambos em MG. Neste momento os esforços da Crax a transformaram em uma das grandes responsáveis pela perpetuação da espécie. Hoje já existem cerca de 100 aves na ONG, fundada por Roberto Azeredo.

A Crax – Sociedade de Pesquisa da Fauna Silvestre é uma Ong que luta para devolver à natureza espécies que andam sumidas dos habitats originais desde 1987. Com sede em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, a organização contribui para a recuperação de ecossistemas. Dentre tantos outros méritos da associação, um merece destaque. Não fosse o empenho da Crax em salvar da extinção o mutum-de-alagoas, o animal hoje só poderia ser observado em livros acadêmicos.

Os esforços das organizações acima foram responsáveis pela perpetuação da espécie. Hoje, a chance de evitar a definitiva extinção é através da reprodução em cativeiro e a reintrodução na natureza, em áreas protegidas. Neste sentido, a espécie também é foco de um Plano de Ação Nacional para Conservação, conduzido pelo ICMBio.

O ICMBio lida com a questão de espécies ameaçadas elaborando Planos Nacionais de Ação e a partir daí busca parceiros para sua execução. Em 2014, houve uma reunião para o monitoramento do Plano de Ação Nacional para a Conservação do mutum-de-alagoas. E o Parque das Aves (primeiro zoológico a possuir um plantel de mutuns-do-nordeste) foi convidado a participar do plano por ter experiência na reprodução de vários cracídeos, inclusive de mutum-do-sudeste, espécie também ameaçada. Nesta reunião foi discutida a necessidade do estabelecimento de novos centros de reprodução, principalmente porque a capacidade da CRAX de manter animais desta espécie já estava no limite, e não possuia nenhuma ajuda do governo. No Parque das aves foram construídos viveiros para abrigar 12 casais, dentro das especificações do protocolo oficial, onde mais tarde também foi obtida a reprodução da espécie.

Participou também do processo o Criadouro Fazenda Cachoeira, que possuiu 7 animais (BARROS, 2015).

As ações para a reintrodução nas reservas de Mata Atlântica em Alagoas iniciaram em 1998, envolvendo diversos órgãos, dentre eles a Secretaria de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), o Instituto do Meio Ambiente (IMA-AL), o Batalhão de Proteção Ambiental (BPA) da Polícia Militar de Alagoas, o Ministério Público Estadual (MPE) e o Instituto para Preservação da Mata Atlântica (IPMA). O ICMBio elaborou um Plano de Ação Nacional específico para a ave, o PAN Mutum-de-alagoas, que se encerrou em dezembro de 2013 com 56% de suas ações implementadas. A espécie foi então recepcionada no Plano de Ação Nacional para Conservação de Aves da Mata Atlântica.

Em 22 de setembro de 2017, um casal da espécie foi colocado em um viveiro de 400 m2 para início do processo de adaptação e soltura. A ação marcou a inauguração do Centro de Educação Ambiental Pedro Mário Nardelli, localizado na Usina Utinga Leão, em Rio Largo, Alagoas. Na ocasião, o governador Renan Filho (PMDB) assinou o decreto que torna a ave símbolo do estado de Alagoas. Estavam presentes cerca de 200 pessoas no evento, dentre elas o idealizador do projeto, Fernando Pinto, do Instituto de Preservação da Mata Atlântica (IPMA); o coordenador da Sociedade de Pesquisa em Vida Silvestre (Crax) e um dos responsáveis pela reprodução da espécie, Roberto Azeredo; e o ator Vitor Fasano, um entusiasta da conservação.

Em Outubro de 2017 já existiam cerca de 230 indivíduos, alguns deles híbridos de mutum-de-alagoas e mutum-cavalo (Pauxi tuberosa), sobrevivendo em cativeiro em três criadouros e centros de pesquisa em Minas Gerais, Rio de Janeiro e no Parque das Aves, em Foz do Iguaçu.

Em Setembro de 2019, finalmente pôde voltar ao seu habitat natural. A espécie teve seis exemplares reintroduzidos na Mata Atlântica de Alagoas. O feito, que foi pioneiro na América Latina, só foi concretizado graças ao estoque final de aves que ainda estavam protegidas em criadouros e zoológicos. Logo, devemos pensar duas vezes antes de subestimar os habitats controlados e seus papéis na conservação. Só se foi possível devolver as aves aos remanescentes da Mata Atlântica de Alagoas, tomando todos os cuidados necessários para que o bicho não entre na lista de animais extintos novamente. Uma força tarefa foi montada, incluindo o Ministério Público Estadual de Alagoas (MPAL), para que os animais pudessem voltar à natureza em segurança: sem risco de serem capturados por caçadores, com a população informada e ambientalmente educada, e principalmente, com medidas tomadas para que a mata estivesse realmente preservada.

Antes da soltura, um grande viveiro foi construído na região com o objetivo de abrigar as aves, possibilitando à elas uma experiência de adaptação e deixando-as prontas para ganharem a liberdade. A biodiversidade ganhou um respiro graças à pessoas envolvidas nesse trabalho difícil e complexo, em especial o recentemente falecido Pedro Nardelli (texto referência de setembro de 2019), um verdadeiro ícone nesse processo. E, claro, a vários amigos que estiveram juntos, trabalhando para que tudo desse certo, dentre eles Fernando Pinto (IPMA/AL) e Luis Fábio Silveira (MZUSP). O sucesso na recuperação desta espécie também depende da conservação dos remanescentes de Mata Atlântica em Alagoas, do envolvimento de pesquisadores, ONGs, usineiros e da população local. As ações locais são lideradas por Fernando Pinto do IPMA (Instituto de Preservação da Mata Atlântica). Elas buscam envolver usineiros e a população local com a questão da recuperação do mutum-de-alagoas utilizando a mesma metodologia de envolvimento das comunidades usadas no Projeto Ararinha-Azul.

Infelizmente em sua área de ocorrência ( Mata Atlântica de Alagoas e Pernambuco) existem poucos remanescentes de mata e estes poucos trechos sofrem ainda grande pressão de caça pelos moradores da região. Outra grande ameaça a essa espécie é a consanguinidade, pois os exemplares restantes são parentes próximos. Artigo de JAN 2017 sobre a conservação em cativeiro e reintrodução da ave.

Infelizmente, Nardelli nos deixou e não poderá acompanhar seu sonho de ver novamente o mutum-do-nordeste livre se tornando realidade. Mas uma força-tarefa igualmente dedicada e envolvida nesse projeto único, fará isso.

Nome Científico

Seu nome científico significa: do (espanhol) pauji = termo usado pelos primeiros colonos na América tropical para definir uma variedade de grandes aves; e do (tupi) mutú, mitú, mutum = grande pássaro preto. ⇒ Grande pássaro preto.

Características

A espécie foi descrita pela primeira vez no século XVII pelo naturalista alemão George Marcgraf e redescoberta em 1951 pelo ornitólogo Olivério Pinto. O mutum-do-nordeste possui aproximadamente de 83 a 90 cm de comprimento, pesa entre 2,75 e 3,0 quilogramas e apresenta uma plumagem uniformemente negra com reflexos azulados. As penas da região ventral e da parte inferior da cauda são marrons. As penas da cauda são também negras, com o seu ápice branco-sujo ou amarronzado e o bico é bicolor, vermelho na base e tornando-se róseo-esbranquiçado em direção à ponta.

Alimentação

Consta que se alimenta de frutos (Eugenia sp. e Phillocantus sp.), caídos no solo, sob as fruteiras.

Reprodução

Em 1978, um ninho foi encontrado em árvore, a média altura, oculto pela folhagem.

Em cativeiro, as fêmeas realizam duas posturas por ano, sendo a primeira nos meses de agosto/setembro e a segunda em janeiro/fevereiro. Em média, dois ovos são postos em cada ocasião. A incubação dura cerca de 29 dias. A primeira postura foi a partir de 3 anos de idade.

Hábitos

O Mutum é uma ave terrícola, originária da Mata Atlântica brasileira densa, mais especificamente da região nordeste. Por dispersar sementes, assume um papel fundamental na regeneração das florestas onde vive e age como um “guardião ambiental”.

Distribuição Geográfica

Sua distribuição original não é muito clara. O mutum-de-Alagoas foi extinto da região de Mata Atlântica ao norte do rio São Francisco, conhecida como Centro de Endemismo Pernambuco (CEP), onde era a maior ave terrestre. Originalmente estava presente na Mata Atlântica de Pernambuco e de Alagoas (tabuleiro do Nordeste) até 300 metros de altitude. A espécie foi relatada por Marcgraff no século XVII e redescoberta em 1951 pelo ornitólogo Olivério M. O. Pinto em São Miguel dos Campos, estado de Alagoas. Os últimos registros em campo datam de 1978, 1984 e 1987. A destruição do seu habitat para o plantio de cana de açúcar e a caça (muito arraigada na cultura nordestina) determinaram sua extinção.

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