Cacatua bebê ressurge das cinzas dos incêndios florestais da Austrália

As cacatuas pretas brilhantes da Ilha do Canguru estavam florescendo antes dos incêndios. Agora, a história da sobrevivência de uma família ofereceu nova esperança.

 

Em algum lugar na Ilha do Canguru na Austrália, uma recém nascida cacatua preta brilhante, com número de identificação 0601, está consolidando um novo capítulo em uma impressionante história de sobrevivência.

No começo de janeiro deste ano, seus pais desesperados fugiram de seu ninho em uma árvore, na beira do jardim de Carol e John Stanton, para escapar da fumaça e das chamas dos incêndios florestais que estavam varrendo um terço da ilha.

Os Stantons perderam sua casa nos incêndios, mas a árvore – e o ninho- sobreviveram.

Nas semanas seguintes, quando o casal começou a limpar a casa, eles ficaram surpresos ao descobrir que os pais não apenas haviam retornado, mas estavam acompanhados do chiado estridente de um filhote.

“Aquilo foi muito especial e só faz você se sentir agradecido por eles terem sobrevivido. Isso nos deu uma animada”, disse Carol.

Brilhantes (“glossies”), como são chamadas, se unem pela vida inteira e os Stantons têm assistido os dois pássaros visitarem o ninho artificial feito de tubulação de drenagem pluvial adaptada, na beira de seu jardim, uma atração turística na ilha no litoral do estado da Austrália Meridional, por anos.

“Há uma trilha debaixo da árvore”, afirmou Carol. “Eles são pássaros muito dóceis, você acaba se apegando a eles. Eles saíam e olhavam para nós – eles se acostumaram com a nossa presença. O mesmo par usar o mesmo ninho ano após ano, é um verdadeiro prazer para nós.”

As brilhantes da ilha são uma subespécie única que os ambientalistas têm trabalhado há 25 anos para salvar. Eles se alimentam apenas das sementes de uma árvore – a Allocasuarina verticillata – e botam um ovo por ano. Para os Stantons pareceu impressionante que as suas cacatuas não somente produziram um ovo, como também este ovo sobreviveu para se tornar a 0601.

Mesmo com o fogo se alastrando, “esse par esteve lá passando pelos rituais de acasalamento”, disse Mike Barth, que administra o programa de conservação da ilha para salvar os pássaros da extinção.

Enquanto os bombeiros continuam a liberar novos mapas de áreas queimadas na ilha, Barth afirma que ele “ficou arrasado por terem acabado de perder outro local de nidificação”

Mas em 11 de fevereiro, enquanto Barth estava sondando o estrago e verificando a existência de ninhos remanescentes, ele viu a fêmea no jardim dos Stantons sentada em um ovo. Em 29 de abril, enquanto os pais estavam fora procurando comida para o mais novo membro da família, ele escalou até o ninho e prendeu a tira de aço inoxidável com o número 0601 na perna do filhote.

Apesar dessa estória de sucesso, Barth diz “A essa altura, nós não sabemos precisamente quantos pássaros nós perdemos. Acreditamos que perdemos alguns diretamente nos incêndios.” Barth vai ajudar a fazer um censo dos pássaros mais para o final do ano.

Em meados dos anos 90, restavam apenas 158 cacatuas pretas brilhantes. O desmatamento de terras para o desenvolvimento e para a agricultura provocou o aumento do número de gambás nativos que invadem ninhos de cacatuas e roubam seus ovos.

Mas, esforços de conservação para proteger esconderijos de gambás de caçadores de gambás, instalar ninhos artificiais e plantar mais casuarinas, viram os números ultrapassarem 400 antes dos incêndios assolarem.

“Foi inacreditável a extensão da área queimada,” afirmou Barth. “Ficar dirigindo para o oeste vendo todos esses lugares, não apenas o habitat das cacatuas pretas, mas de todas as pessoas que eu conheço que perderam suas casas, quebrou meu coração.”

“Fiquei pasmo com quantas árvores grandes e antigas foram perdidas. O fogo entrou pela base e apenas as derrubou.”

O número 0601, esperamos, está lá fora com os outros 33 novos filhotes contabilizados desde os incêndios, evitando aves de rapina e encontrando a estranha casuarina que não queima, aqui e ali.

“Nós perdemos muitas árvores de alimentação no Oeste”, afirma Barth. “Toda árvore verde conta, é isso que eu fico falando.”

Apesar das casuarinas conseguirem lidar com o fogo e algumas estarem rebrotando, levará de 5 a 15 anos até que existam sementes crescendo novamente para os pássaros se alimentarem.

Mas Barth está esperançoso. “Eles são pássaros inteligentes e pelo que eu vejo, eles têm um pequeno mapa mental das árvores de alimentação e uma vez que eles encontrarem uma, eles vão ficar voltando para ela ano após ano.”

“Nós temos uma plantação [de casuarinas] perto de Stokes Bay que sobreviveu aos incêndios. Essas árvores têm apenas quatro ou cinco anos de idade, então daqui há mais dois anos elas terão sementes.”

No fundo da cabeça de todo mundo na ilha, alega Barth, está o medo de mais incêndios nos próximos anos. “Ano que vem poderia acontecer no extremo leste da ilha – a gente simplesmente não sabe,” ele diz.

“Os seres humanos provocaram desequilíbrios para muitas espécies e é nossa responsabilidade fazer algo para ajudá-las. Nós criamos as condições. Eu fico feliz de ser um dos que está ajudando.”

 

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