Populações de linces ibéricos crescem e extinção pode ficar no passado

Um projeto de 20 anos de reintrodução da espécie através da península vê seus números crescerem a 855.

Com pelo manchado, orelhas pontudas, oscilante na beira da extinção há menos de duas décadas atrás, o lince ibérico continua a voltar entre a Espanha e Portugal.

De acordo com a última pesquisa, a população de linces na península tem aumentado nove vezes nos últimos 18 anos, indo de 94 em 2002 para 855 nesse ano. Especialistas dizem que se os atuais esforços de conservação e reintrodução manter a velocidade, a espécie pode sair de perigo em 2040.

O censo de 2019, realizado com armadilhas de câmeras e grandes reservas de paciência, revelou que mais de 80% da população de linces encontra-se na Espanha, 311 filhotes nasceram na península ano passado e que há 188 fêmeas em idade reprodutiva. Há populações em Serra Morena e no parque nacional de Donaña.

No final do último século, entretanto, a situação parecia desoladora para os gatos barbudos – e para os coelhos, que compõem 90% de sua dieta.

As medidas governamentais para se livrar de criaturas consideradas vermes, que duraram até meados de 1970, levaram uma grande porcentagem, como houve uma queda catastrófica no número de coelhos, seguindo a chegada do mixomatose nos anos 1950 e da doença hemorrágica nos anos 1980. Ambos os fatores foram agravados pela destruição e isolação de habitats que vieram com a construção de autoestradas e maior presença humana.

Miguel Ángel Simón, biólogo que passou 22 anos construindo e conservando o número de linces antes de se aposentar ano passado, recorda da escala assustadora da tarefa que ele e seus colegas enfrentaram. “Quando começamos em 2000, nós nem sabíamos quantos linces sobraram,” diz ele.

“Nós descobrimos pelo primeiro censo que haviam 94 e pensamos que iriam desaparecer. Nós simplesmente não sabíamos se havia um jeito de salvá-los – eles estavam no limite e em risco crítico de extinção.”

Sua estratégia para buscar dinheiro e o engajamento de políticos, e a cooperação de donos de terras e público, os recompensou gradualmente.

Uma série de projetos, coordenados pelo governo de Andaluzia em conjunto com outras regiões da Espanha, as autoridades portuguesas e ONGs de conservação, detiveram o decréscimo, expandiram populações e testemunharam linces serem reintroduzidos em outras áreas.

“Hoje a situação está boa e eu acho que podemos ser otimistas e calmos porque não só recuperamos a população em Andaluzia, também construímos populações em Portugal – onde os linces eram extintos – e em Estremadura e Castela-Mancha”, diz Simón.

A fase mais recente do programa, o projeto de 5 anos Life Lynxconnect, tem um orçamento de 18.8 milhões de euros, dos quais 60% vem da União Européia.

O novo líder do projeto, Javier Salcedo, diz que o alvo principal é juntar as populações existentes e aumentar a diversidade genética. “Nós precisamos ver uma troca de animais que nos dará uma troca de genes,” diz ele.

O coordenador de grandes carnívoros do Fundo Mundial para a Natureza, Ramón Pérez de Ayala, – um dos 21 parceiros do mais recente projeto – avisa que as populações de linces correm o perigo de desenvolver problemas genéticos se permanecerem isolados.

“Nós faremos alguns rastreamentos genéticos para monitorar a situação e ver se precisamos mover indivíduos artificialmente.”

Pérez de Ayala também está otimista sobre o futuro dos linces e espera vê-los mudar da categoria de ameaçados da Lista Vermelha de espécies ameaçadas da Union for Conservation of Nature para a categoria de espécies vulneráveis.

Ele estima que levará outros 20 anos de trabalho duro antes da Espanha e Portugal afirmar que os linces estão a salvo. “Se continuarmos, se mantermos o crescimento da população, e se a sorte ficar ao nosso lado, teremos pelo menos 750 fêmeas em idade reprodutiva – o que significa mais de 3.000 linces no total – em 2040,” diz ele.

De vez em quando, as populações existentes terão que ser misturadas e aumentadas, e novas populações terão que ser estabelecidas em habitats ricos em coelhos. O mapeamento e a marcação de pontos serão igualmente importantes: em 2019, 34 linces morreram depois de serem atropelados.

Para Pérez de Ayala e muitos outros, a proteção do lince é ecológica e moralmente imperativa. “Todas espécies possuem um valor intrínseco que não pode ser perdido – seria como destruir uma catedral”, diz ele. “E estamos falando de um animal que faz um bom trabalho de equilíbrio da cadeia alimentar do ecossistema Mediterrâneo.”

Na falta de linces, predadores de porte médio que comem coelhos – como raposas e mangustos egípcios – colocam as presas sob muita pressão. Quando os linces chegam, explica Pérez de Ayala, a densidade de raposas e mangustos desce e a população de coelhos sobe.

Mas, ele acrescenta, a harmonia ambiental é uma de muitas razões do porquê o gato selvagem único da península deve permanecer bem alocado.

“Em um nível mais emocional, o lince é uma joia e uma coisa bela de se contemplar.”

 

 

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